lunedì 7 gennaio 2008

UMA PERÚA COMO AMIGA

A casa de vovò Giovana è o que se pode chamar de um sitio à perfeição. Com tanta galinha, cabra, porco e uma enorme perúa, que parecia ter sido nutrida pra saciar um batalhao inteiro.
Vespera de Natal. A casa de vovò Giovana estava cheia: Pedro, o mais velho, casado com Rosa e os 3 filhos. Clara, mulher de Eduardo e a filha Ludovica de 7 anos; a tia Fabiana e o marido Marcos, os dois irmãos viúvos de vovô Roberto com mais 3 primos.
Vamos adiantar, gente! Precisamos decidir. O que vamos preparar pra a ceia? Os animais estavam todos alì a observar, com aquela expressão de quem diz: “eu nao tenho nada a ver com essa festa!” O porco olhou a unica perua presente: “E’ um problema todo teu!…” Todos os outros animais voltaram o olhar acusador diretamente à perúa.
A perúa baixou a cabeça como uma condenada que aceita a sua sentença.
Se abaixou displicentemente, em um cantinho do quintal. Olhando-a, ninguém poderia notar nenhuma ansiedade nem mesmo quando apalparam sua intimidade pra saber se estava gorda o bastante.
Todos lhe olhavam mas ela parecia indiferente, como se refletisse em algo, nao estreitamente ligado ao momento presente.
- Uma “ova” que vou aceitar essa sentença…
Improvisamente, inchou o peito, vibrou a crista cor-de-rosa e os pêndulos como se usasse brincos, abriu as asas e tentou alçar um vôo desajeitado, mas veloz, em direção ao teto da casa de “Fiel”, o cão de familia. Todos a olharam com uma unica preocupação: a ceia natalina estava dando no pé. Somente Ludovica lhe fez um sorriso cumplice e piscou o olho, antes de ve-la escapar.
Em cima daquele improvisado refugio, se sentia uma decoração fora do lugar. Enquanto isso, pensava em todas as possiveis vias de salvação ou de fuga.
O avô consternado, vendo claro a iminente volatização daquilo que deveria constituir o prato forte da ceia de natal, convocou toda familia pra uma reuniao extraordinaria.
Estava aberta o debate em prol de uma alternativa à perúa transgressiva.
Pedro, o filho com a prole maior pra saciar, tomou a decisão: agarrou um bastão e se mandou à caça da fugitiva.
Com um salto, alcançou o teto da casa de Fiel, mas a perua, prevendo a ameaça, tomou velozmente uma outra destinação. A perseguição foi ficando mais intensa. Corriam um atrás do outro. Quando parecia que a perúa estava ganhando vantagem, impulsionada por uma insólita força selvagem na luta pela sobrevivência, uma coisa toda nova pra a sua apática raça, a astúcia humana teve a melhor.
Encalhada na armadilha de uma viela, bastou um salto e… zac…!
Com um grito de vitória. Pedro agarrou a perúa. O gordo volátil estremeceu e se entregou nas mãos do carniceiro, sem opor resistência.
Sozinha, tremula e encolhida pelo pavor, a perúa não conseguia entender o que ela tinha de tão precioso pra que os humanos lhe quisessem tanto.
Naquela casa tinha uma multidão, e ela, pobre perúa, pesava só 7 kilos, incluindo penas, pele, ossos e carne… não seria melhor uma vaca, ou aquele porco imbecil, que parecia sorrir satisfeito quando a escolheram? Nada, Queriam era ela mesma! Pobre diaba! Mas… estava sozinha, sem pai nem mãe…
Foi levada como um troféu e jogada em cima da mesa da cozinha: a ceia foi recuperada.
Todos aplaudiram.
Mas, improvisamente, a perúa deu um berro e… pôs um ovo, talvez prematuro.
- Um ovo! Ela pôs um ovo mãe! – Gritou Ludovica com a voz rouca pela excitação.
A perua continuou alì, na mesma posição, como pra proteger seu filhote, abrindo e fechando os olhos, como se quisesse explorar aquele estado de puerpera pra evitar a pena capital.
Mas parecia que ninguém se comovia. Estavam todos ocupados em pegar faca, sal, cuminho, com vivida intenção de preparar a tão aspirada ceia. A perúa foi circundada. Peixeira na mão e a avó em vias de dar o primeiro golpe.
Ludovica assiste aquela cena, apavorada.
- Não, vovó, não mate ela! – Gritou.
A familia estava dividida.
- Não tá vendo que ela gosta da gente? Pôs até um ovo, vovó!
- Não, querida, é só uma perúa, não tem sentimentos…
- Sim, vovó, ela quer viver pra ficar com a gente! – E acariciava a cabecinha gondolante da perúa que lhe olhava com doçura.
Os presentes assistiam aquela cena impedernidos e também impacientes com aquele prolongar-se de delongas e bate-bicos.
Eduardo notou duas lágrimas despontarem dos olhos de sua filha, enquanto sua mulher Clara assoava discretamente o nariz na ponta do avental.
Parecia mais um velório de um ente querido.
-Parem com esse lamento, devemos depenar a perúa. Passa-me a àgua quente, Rosa! – Concluiu a avò pra dar um final naquela dramática cena com esfumatura Shakesperiana.
Eduardo se empinou, levantou a cabeça, deu um respiro profundo, dois passos adiante, como se estivesse pra iniciar o tradicional discurso natalino.
- Se mate aquela humilde perúa, mãe… - fungou como se havesse já excreção nasal – “nunca mais hei de comer perú na minha vida!
- Mas o que está acontecendo nessa casa? Desde que o mundo é mundo, o homem come perú e nós não seremos uma exceção. Até Jesus Cristo comia…
- Jesus comia peixe e pão, minha mãe.
- Perú também, diz a santa escritura.
Giovana procurava misturar uma versão sua da biblia, como se quisesse absolver todos quantos se sentissem em culpa.
- E eu também. Juro que nunca mais vou comer Perú na minha vida. – Replicou Ludovica enxugando as lágrimas.
- Mas aqui tá todo mundo pirado. Posso saber o que significa tudo isso? Perguntou a avó irritada, depois de dar uma olhada na panela. Tá bom. Se ninguém quer saber de ceia de Natal, tou de acordo. Só não quero que venham dar a culpa a mim, ok?
Deixou a faca na mesa perto da perua que a seu tempo voltou a cabecinha pra olhar aquele objeto ameaçador, acrescentando um sospiro tremulante.
O que acho mesmo é que todo mundo ficou louco nessa casa – continuou a avò – uma reuniao familiar extraordinaria, aliàs duas, pra decidir pela vida de uma perua que pôs um ovo.. Como se aqui estivessemos pra matar o presidente Bush… Mas me façam um favor… eu nao concordo – continuou vovó Giovana sacudindo a peixeira no ar – vou agora mesmo preparar essa maldita perua e não se fala mais no assunto.
- Naaãooo!!! - Gritaram em uníssono.
- Espera, Giovana! – ordenou a tia Fabiana, vendo nela, uma ligeira indecisão em vibrar o primeiro golpe. – Vamos raciocinar. Porque não compramos um perú no açougueiro da esquina, assim podemos comer em santan paz, sem ter que sujar as mãos com o sangue inocente???
- Sangue inocente…!! Oh… mas não posso crer! Que tragédia… aqui precisa de um psicanalista… em vez de um açogueiro!
Naquele momento, vovô Roberto, com o saco cheio daquele bate-bico, se ausentou sem que ninguém visse, pouco depois entrou com um grande pacote na mão.
- Basta! Parem com essa polemica, pelo amor de Deus! Aqui está a ceia de Natal. Deixa pra lá essa pobre perua – disse com um toque de emoção na voz – Não quero que tenhamos uma indigestão, depois de tantas controvérsias.
A perua passou da condição de condenada à de “padroeira” da familia.
Ludovica, passava todos os dias pra saudá-la, quando voltava da escola. A avó tinha agora uma postura reverente diante de “Agraciada” – como a perua se passou a chamar.
A perua, ignorando os motivos que lhes trouxeram tantas mudanças, continuava desconfiada depois da traumática experiência, e a colocar sempre em alerta, suas duas únicas capacidades de sobrevivência: A apatia e, principalmente, a defesa… ehmmm… (quase) pessoal.

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